quarta-feira, 27 de abril de 2011

Futebol e Comida: Duelos e Harmonias - Parte 2: Madrid


No segundo texto da série, falarei um pouco sobre Madrid, palco do primeiro jogo da outra semi-final da UEFA Champions League, Real Madrid x Barcelona.
Não é preciso nem falar da importância do confronto - isto é óbvio! Estarão em campo muitos dos melhores jogadores do mundo e alguns duelos ressaltam. Só a título de exemplo, o embate entre o melhor goleiro do mundo na atualidade (Iker Casillas) contra o melhor atacante e jogador do mundo (Lionel Messi); ou então o que envolve um dos maiores zagueiros do mundo, Gerard Piqué, que vive fase esplêndida e Cristiano Ronaldo! É claro que não serão apenas estes duelos que determinarão o jogo. Há muito mais que se analisar, mas isso eu deixo para os especialistas (que aliás já devem estar estafados de tanto tocarem no assunto "Real e Barça"). Fala-se tanto no jogo que não se tem nem tempo para apreciar a partida, que, de fato, é o mais importante a ser feito.
Além de serem as duas melhores equipes do mundo, trata-se de uma das maiores rivalidades no futebol. E por falar em rivalidade, não se pode deixar de citar o aspecto político-histórico que envolve os dois clubes (e as duas cidades). Sem querer me intrometer em assunto tão complexo, vou apenas colocar uma pimenta nesse caruru: a Espanha se formou como Estado a partir da união entre as coroas de Castela e Aragão. O Reino de Castela situava-se ao centro da Península Ibérica e tinha como capital a cidade de Toledo, enquanto o de Aragão se situava mais ao norte, tendo como capital Zaragoza. Depois da união de ambos, formou-se o estado espanhol englobando quase toda a península (só ficou de fora Portugal, que havia sido criado em 1385). Mas espera aí! E o estado da Cataluña? Pois é. Pergunte a um catalão se ele se considera espanhol, e você terá de correr.
Como na semana que vem o jogo é em Barcelona, deixarei para entrar em mais detalhes sobre esta cidade em tal oportunidade. Falemos então sobre Madrid, cidade que é a capital da Espanha desde 1561, e é filha da Era de Ouro da corte espanhola.
Como não poderia deixar de ser, a cidade apresenta uma arquitetura extremamente imponente, rica, até extravagante. Tal riqueza se traduz também na gastronomia que se caracteriza pela diversidade de produtos tanto do mar quanto da "montanha".
Para ilustrar um pouco da culinária madrileña, destaco um prato bastante típico, que inclusive tive a oportunidade de degustar em um dos mais tradicionais bares de Madrid, a Casa Alberto, fundada em 1827. Falo do substancioso, e não menos delicioso, callos a la madrileña, ou seja, um belo ensopado de tripa de boi em companhia de diversos embutidos típicos: morcela, presunto cru, chorizo, etc. Não é a intenção aqui passar alguma receita, até porque não existe uma só possibilidade para o prato. Basicamente, é importante tratar bem a tripa (lavar e deixar de molho em vinagre e sal). Deve-se cozinhar lentamente em água com alguns temperos (tomilho, cravo, pimenta do reino) e cebola, alho e cenoura. Após cozida a tripa, juntam-se os embutidos, colocam-se alguns tomates, um pouco de farinha (se desejar um molho mais espesso) e páprica. Deposita-se tudo numa cazuela de barro e leva-se ao forno brando para finalizar.
Nada melhor para acompanhar este prato que uma cañita bem tirada da choppeira de 200 anos por um garçom nascido pouco depois da inauguração do bar. Deixandos os aspectos emotivos de lado, poderia sugerir um tinto robusto da Ribera del Duero. Porém, novamente preferiria harmonizar com uma cerveja, e aí, ficaria com uma lupulada (amarga) Porter seca, carbonatada, com boa presença de álcool para contrastar com a "gordura", a condimentação e o ligeiro dulçor do prato. Um bom exemplar é a da cervejaria Meantime, de Londres.

Termino novamente com um palpite, o qual garanto que estará errado:
Real Madrid 2 x 1 Barcelona

Salúd!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Futebol e Comida: Duelos e Harmonias - Parte 1: Gelsenkirchen


Viveremos, nas próximas semanas, alguns dos momentos mais importantes do futebol interclubes do planeta. Por isso, e para reativar este blog outrora deixado às moscas, ponho-me a escrever sobre aspectos que circundam os grandes duelos futebolísticos a que assistiremos a partir desta terça-feira. No primeiro texto da série, falarei sobre a primeira partida da semi-final da UEFA Champions League entre Schalke 04 e Manchester United.
Começando com algumas pitadas de futebol, é válido citar que o confronto envolve as maiores torcidas da Alemanha e da Inglaterra. O time de Gelsenkirchen é certamente o azarão, diante da força e da tradição do United. Este já foi campeão do torneio 3 vezes, enquanto aquele nunca havia chegado às semi-finais da competição. Ainda que os ingleses se apresentem como favoritos, os azuis do norte do Reno contam com Raúl González, ex-Real Madrid, o maior artilheiro da história da Champions com 71 gols e com sua fanática torcida, que pode insuflar a equipe ajudando-a a conseguir um bom resultado em casa partindo para a Inglaterra com a vantagem. Veremos...
O primeiro duelo entre ambos os times dar-se-á em Gelsenkirchen, Renânia do Norte - Vestfália, Alemanha, cidade que cresceu após a Revolução Industrial graças às suas imensas reservas de carvão (as maiores da Europa). Hoje, caracteriza-se pela produção de alta tecnologia e pelo turismo cultural. Há diversos museus e teatros, alguns dos mais modernos do mundo! Por falar em tecnologia, destaca-se, sem dúvida, o próprio estádio que abrigará a partida. A Veltins Arena, inaugurada no início deste século possui cobertura total e, por isso, o gramado se move para que, em certa parte do dia, possa receber sol. O investimento não passou de 300 milhões de dólares, e certamente rende lucros aos responsáveis por sua administração - isto me faz pensar no que se fará em Manaus para a Copa de 2014. Lá, como na Alemanha, o estádio também ficará lotado nos clássicos entre Rio Negro e São Raimundo, e dará um grande retorno! Será?
Deixando de lado este assunto, falarei um pouco sobre um prato típico da culinária da região da Renânia, o Sauerbraten. Trata-se de uma carne (tradicionalmente de cavalo, mas hoje em dia se utiliza, em maior escala, o boi) marinada em vinagre - daí o termo "sauer", ácido em alemão -, vinho, ervas e temperos, assada por algumas horas em panela tampada, no forno ou no fogo direto, servida com o próprio molho, ao qual, após o cozimento da carne, é adicionado açúcar e passas, segundo a forma típica da região tratada, e normalmente, acompanhado de repolho roxo, bolinhos de batata, spätzle, etc.
Obviamente, existem variações quanto a elaboração do prato. As especiarias nem sempre são as mesmas, apesar do uso indispensável do zimbro, do cravo, do louro e da noz moscada: pode-se adicionar, por exemplo, sementes de mostarda, de coentro, canela, etc. O vinho e o vinagre a serem utilizados podem ser de diferentes qualidades ( uvas brancas, uvas tintas, mais ou menos encorpados, etc.). Por isso, ao pensar numa ideal harmonização com um vinho local, já que um pouco ao sul localiza-se uma das mais importantes regiões produtoras de vinhos da Alemanha (conhecida como "média Renânia"), nada é tão exato. Atenho-me a sugerir um bom Riesling, com bom corpo e alguns anos de maturação, se for escolhido um vinho branco. No caso dos tintos, escolha entre as duas uvas predominantes da área - a Spätburgunder e a Portugieser - mas sem tanto destaque. Se a preferência de harmonização for com uma cerveja - opinião da qual eu compartilho neste caso -, ainda que se devam observar as particularidades em cada preparação, seguindo a forma exposta de se elaborar o Sauerbraten em Gelsenkirchen (com um molho encorpado, adocicado e condimentado) sugiro uma doppelbock alemã. Um bom exemplo é a Paulaner Salvator!

Encerro meu primeiro texto da série "Futebol e Comida - Duelos e Harmonias" com um palpite para o jogo (que certamente estará equivocado):
Schalke 04 1 x 1 Manchester United

Até o próximo.